DO ESTRANHO LUGAR QUE ME HABITA
A linguagem é algo que nos define. Através dela estabelecemos relações de afeto, poder e desejo. Refletir sobre a linguagem e o estranho que nela habita, é uma potente ferramenta utilizada pela arte para falar não só da relação entre o homem e o mundo, mas também sobre o surgimento neste sujeito de uma espécie de estrangeiro, um lugar estranho, inquietante, sombrio e obscuro. Desta forma, há uma espécie de ultrapassagem: o sujeito é atropelado por outro sujeito que ele desconhece pelo menos de maneira consciente, mas com o qual se relaciona. Convoca-se nessa mostra as produções artísticas de três artistas. Fernanda Mafra interessa-se pelo presente e pela função plástica e poética da epiderme, numa espécie de lugar-outro, onde a verdadeira matéria aparece camuflada, negando ao olhar este outro-real contido no objeto. João Paulo Racy reflete sobre a homogeneização do espaço urbano. No entanto, dele participa não apenas sob o olhar crítico, mas leva consigo este não-lugar utópico. Nele se desintegra como sujeito no espaço próprio de suas edificações. Yago Toscano tangencia questões como a redenção do olhar ou do corpo do observador refletindo sobre produções de fenômenos sociais e de impasses vividos pelos meios de expressão e produção do sujeito. Suas criações se afirmam no momento em que cruza a fronteira do estabelecido e de sua própria identidade. Nestes estranhos lugares o sujeito não é senhor de si mesmo. Será sempre um estrangeiro, um estranho em sua própria casa, movido pelo desejo e por uma verdade nem sempre re(velada).
Vilmar Madruga
Curador