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Carolina KASTING

A passagem do tempo na cidade grande atua na arquitetura de linhas, texturas e cores dando-lhes um caráter pictórico.

 

Em PAISAGEM DO TEMPO a imagem fotográfica ao contrário de revelar, se propõe a pigmentar, dando natureza pictórica à matéria urbana, que, suscetível à corrupção, empresta do tempo novas falas.

 

Sobrepondo entre si ideias como construção e desconstrução, composto e inacabado, material e etéreo. Imagens daquilo que passou ou ainda não foi; da matéria em seu estado de antes, que permanecerá como foi porque capturado seu espírito / ideia através do olhar que atravessa a lente, passa a fazer parte de um novo léxico.

 

O olhar que contrapôs o tempo, corrido, sem pausa, barulhento, sem ócio, ao seu estado oposto, solitário, silencioso e preenchido de vazio, transformando-o em paisagem. Aqui, a reordenação desse espaço/objeto vem ressignificá-lo como paisagem na contemplação e no silêncio da poética que subverte o tempo urbano. A impossibilidade do real, uma passagem por onde ninguém atravessa, uma janela que revela o pigmento e confunde o dentro com o fora.

 

Na busca por uma natureza mais pictórica, pela sutileza da forma na luz e sombra, pelas portas e janelas como passagens intransponíveis, em minha primeira individual, trago o olhar que se propõe a perverter a natureza fotográfica da câmera que tem como base um estranho equivoco em sua origem: o de ser um instrumento preciso e infalível como uma ciência e ao mesmo tempo, inexato e “falso” como a arte. Desse caráter híbrido da fotografia, sempre me interessou a possibilidade de utilizar a lente como um pincel (da lente o pincel), talvez para dar conta de uma profunda frustação, a de não ter capacidade de fazê-lo com a mão. Utilizar os “defeitos” da imagem técnica e transformá-los em elementos constitutivos de um nova poética, longe da mimese perfeita; negar a natureza mecânica da fotografia para dar-lhe atributos pictóricos.

Carolina Kasting

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