# 04 Marcio ZARDO . Verso do Verbo
"A utilização da palavra é elemento estrutural do meu trabalho. Nesta exposição virtual, VERSO DO VERBO, proponho o rompimento das relações tradicionais da linguagem e da imagem, seja em poemas visuais, pequenos textos, frases soltas ou apenas palavras. Transgredindo intencionalmente as noções estéticas e a comodidade visual, os trabalhos são apresentados numa narrativa de forma não linear, onde o que tem significado são os fragmentos verbais e seus subtextos. Nestes trabalhos, a poesia é confrontada com os seus limites, numa outra matéria não lingual, num silêncio das palavras preenchido por visões e audições. Para Gilles Deleuse, a essência da literatura não é literária. A essência da literatura é pintura e é música. Uma música de palavras, uma pintura com palavras, um silêncio nas palavras. “...Como se, levada a língua em que se escreve, ao limite das suas possibilidades, ela entrasse numa espécie de transe ou de delírio e as palavras desatassem já não a dizer mas a pintar e a cantar” Minha proposta instala-se num limite agramatical da linguagem. Plano-limite do dizer, onde as palavras não obedecem a nenhuma coordenação gramatical se soltando de toda a norma sintática. Ao mesmo tempo, destacadas de qualquer conexão discursiva, adquirem mobilidade e poder de jogar entre si acordes semânticos livres e intensidades rítmicas ilimitadas. Minhas poesias são apenas escombros ou fragmentos verbais e não aspiram a nenhuma "enlevação". Na série “Saturados”, utilizo o caráter de diálogo do discurso mural (como no grafite/pichação), visando explorar o imaginário do transitório, do descartável, do efêmero. Pretendo impregnar o visitante com as questões colocadas implícita ou explicitamente, por meio de camadas de leitura. VERSO DO VERBO resulta, assim, numa proposta de prosseguir na desmontagem das estruturas verbais do discurso convencional - insuficiente para abranger o universo da imaginação e da sensibilidade."
Marcio Zardo